Os monitores de Turismo de 2012 têm o prazer de continuar com o blog, que foi uma ideia inspiradora e que deve ser mantida. Por isso, mesmo com a greve, estaremos trazendo notícias do trade e do fenômeno turístico em si, pensando sempre na interdisciplinaridade.

- Jéssica Souza 17/08/2012


É com muito orgulho que os monitores do curso de Turismo do ano de 2011 darão continuidade à louvável iniciativa dos monitores do ano anterior. Que a monitoria do Turismo seja marcada pela qualidade, pela seriedade e pelo compromisso com o ensino.

- João Freitas 13/05/2011

Este blog se destina aos estudiosos, curiosos ou simplesmente simpatizantes do Turismo. Elaborado por nós, monitores do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, pretendemos com ele, levar você, leitor ao conhecimento dos eventos atuais no turismo e ainda te despertar para a análise da prática deste fenômeno, saindo do senso comum presente muitas vezes na teoria acadêmica, nos discursos políticos ou mesmo na "boca do povo".

Até de forma um pouco contraditória, te convidamos a parar um pouco para pensar sobre esta que é uma das atividades mais movimentadas e movimentadoras do mundo.

Não há nada mais agradável do que falar de viagens, não é mesmo? Então seja muito bem-vindo e vamos juntos monitorar o turismo!

- Aline Luz 22/09/2010

terça-feira, 24 de maio de 2011

O abolicionismo racista, a falsa tolerância às diversidades e o Turismo

Dia 13 de maio de 2011. Passaram-se 123 anos da Abolição da escravidão no Brasil. Neste dia, no ano de 1888, deu-se o fim do regime escravista no país, através da Lei Áurea, que vigorava desde 1530.
Na época muitos ex-escravos saíram às ruas comemorando o feito. De 1970 para cá, grande parte do movimento negro decidiu revogar a comemoração da negritude nessa data que passou a ocorrer no dia 20 de novembro, com a criação do Dia da Consciência Negra. Isso por que este movimento não atribui à abolição um caráter de libertação e conquista da igualdade. O abolicionismo, neste caso, é interpretado como um processo elitista, que por negociações com os “donos” dos cativos visava garantir o direito de indenização para esses em troca da liberdade de seus escravos. A preocupação dos abolicionistas teria sido muito mais com o atraso econômico que a escravidão representava. Além disso, a emancipação em 1888 promovia também um “branqueamento” da população brasileira, já que o escravo, negro e africano, seria trocado pelo europeu, livre e branco, não só na produção, como também na formação das famílias. Tudo isto revela um aspecto racista do movimento abolicionista e seu controle pela elite, mostrando que seu interesse principal não era propriamente a defesa de suas vítimas, mas sim, seus próprios interesses. 
Com a política de imigração da mão de obra européia, principalmente de italianos e alemães para o sul e o sudeste do país, os brancos acabaram sendo majoritários no total da população brasileira, o que se verificou até o censo de 2000. No entanto, de forma contraditória às pretensões do “abolicionismo racista” e das teorias de embranquecimento da população que o inspiraram, o Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, agora a população negra superou a branca. Foram contabilizadas 97 milhões de pessoas que se declararam negras, ou seja, pretas ou pardas (nomenclatura do IBGE), e 91 milhões de pessoas brancas. Ainda segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –  algumas especificidades circundam esse fato - “o fenômeno pode ter ocorrido devido à fecundidade mais elevada observada entre as mulheres negras, mas também de um possível aumento de pessoas que se declararam pardas em relação aos censos anteriores”. Além disso, em 2010 “Os óbitos da população branca eram mais concentrados nas idades avançadas. Entre os negros, notou-se uma proporção bem mais elevada de mortes na população de 15 a 29 anos, o que pode ser explicado pelo fato da população negra ser mais afetada pelas causas externas”, como homicídios, diz o IPEA, adicionando que isso é mais periódico entre os homens. O que dentre outros inúmeros episódios transcreve que nossa sociedade brasileira que “vive e respeita” a diversidade de etnias e culturas tristemente se encontra dividida em negros e brancos, isso tudo dentro de um quadro de luta por espaço político, econômico e social.
                Tomando essa disparidade de valores entre etnias, torna-se evidente, portanto, a dimensão do racismo e sua extinção como um desafio para a sociedade brasileira. Recentemente o caso Bolsonaro trouxe a tona debates em torno do preconceito, da aversão à diferença, da homofobia e do ao já citado, racismo.

Veja as notícias na integra: 

           Sabe-se que o fenômeno turístico se caracteriza essencialmente, no aspecto cultural, pelo contato entre visitados com visitantes. E em um contexto atual, grande parte das pessoas busca experiências em novos lugares, ou seja, contatos com outras culturas e a possibilidade de conhecer diferentes modos de vida por meio do turismo. Há no Brasil uma ideia de que, por vivermos intensamente um processo de miscigenação cultural e de etnias isso nos levaria a ausência de preconceitos. Será mesmo que isso é verdade? Sabemos que não, na realidade, o Brasil muito precisa evoluir no sentido de libertar-se dos preconceitos enraizados em sua própria cultura. Como  acolher bem um turista se há racismo? Como não rejeitá-lo? Como reelaborar as questões da cidadania, da integração/assimilação, do turismo, da xenofobia e do racismo, a partir da questão da hospitalidade e do progresso do trade turístico?
Ao observar o cenário do turismo como um todo e suas relações sócio-culturais e o cenário nacional que insiste em trazer um Brasil livre de preconceitos, vale refletir de forma mais profunda sobre a questão do racismo. Neste sentido, é importante para nós, nesse mês de maio, dias após o aniversário da abolição da escravidão no país, rever o significado dessa data e dos valores que giram em torno dela. O racismo brasileiro, se comparado à prática de segregação racial de outros países, pode parecer cordial, mas não há como ignorá-lo, e percebe-lo como um problema social que necessita de urgente solução numa sociedade majoritariamente negra.
Discute-se atualmente a formulação de políticas públicas afirmativas e de informação que possam reconstruir a nossa cultura em relação a aspectos racistas. A  desconstrução do que se chama de hierarquia de raças, aliada à legislação voltada a defender os que sofrem com ações preconceituosas são caminhos a seguir na luta contra o racismo. Há também a fuga de aspectos religiosos e mitológicos que possam ser tendenciosamente interpretados de modo a contribuir com atos de preconceito. Tudo isso aliado ao “resgate” da história e da cultura negra através da educação, parte essencial da cultura e história brasileiras como um todo.
O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas. Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional. (MUNANGA, 2005, p. 16)
Referências bibliográficas: 
MUNANGA, Kabengele (org). Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005.


Outras fontes consultadas:
Demografia da População negra brasileira. 

Negros são 97 mil e passam os brancos.

Hospitalidade: Uma perspectiva sócio-antropológica da globalização dos espaços sociais de encontro e identidade.

Libertar a alma negra do Brasil. 

13 de maio, uma data injustiçada.

O Turismo étnico no Rio de Janeiro. 





4 comentários:

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  2. Todos sabemos que nossa legislação é voltada, quase sempre, para a remediação dos problemas sociais, partindo, assim, das consequencias e quase nunca buscando medidas preventivas. Uma dessas questões diz respeito a questão das cotas raciais. A meu ver, aceitar ser privilegiado por esta lei traz intrínseco a aceitação da não capacidade intelectual. Assim, o governo se "redime" de sua negligência beneficiando uns poucos (que depois de uma verdadeira saga conseguem terminar o ensino médio)podendo seguir negligenciando a educação básica - o que deveria ser a questão fundamental, caso se tivesse a intenção de realmente proporcionar a igualdade na sociedade. Outra questão diz respeito ao perigo de de inserir o conceito de raça na sociedade brasileira. Vivenciei essa questão de perto quando estive em Oriximiná (ano passado) muitos cientistas e pesquisadores determinam como foco de suas pesquisas e projetos as "raças" ali presentes e os benefícios acabam por deixar de lado a sofrida gente ribeirinha que não tem raça definida e por isso, deixa de receber assistência (principalmente médica). Neste caso, como cabocla marajoara, pergunto: e nós o que somos? viralatas? por um acaso não merecíamos que nossa cultura também fosse difundida nos meios educacionais? acorda povo brasileiro! não podemos permitir que a "raça" seja inserida em nossa sociedade! o Brasil é lindo assim exatamente por ser plural!

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  3. Parabéns pela postagem Viviane, as discussões antropológicas são realmente muito importantes, sobretudo para nós que trabalhamos com turismo.

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  4. O pessoal tem a mania de achar que as cotas raciais sao uma especie de esmola, um favor porque algum branco bonzinho foi la e disse "tadinho, os negros sao burros demais pra concorrer ao vestibular, entao toma ai as cotas". Com isso, repete se precisamente o mesmo pensamento racista de que o negro é incapaz de ser o sujeito de sua propria história, entao os brancos e que tem ir la fazer e pensar por eles, tal como crianças. Foi esse pensamento que os defensores da escravidão alegaram com sucesso durante 400 anos, foi o que os abolicionistas alegaram para liberta los e e o que alegam para retirarem as cotas. Mas ora, com isso ignora se que o negro jamais deixou um minuto sequer de lutar pela sua autonomia, liberdade e independência. Não foram os playboys que deram a liberdade, foram os negros que forçaram na através de guerras, lutas, assassinatos e fugas. Da mesma forma, os negros não foram agraciados pela bondade branca com as cotas, foram eles que, desde 13 de maio de 1888, vem pressionando mais e mais a sociedade racista a cada ano que passa para conquistar indenizações pelo genocidio quadrimilenar. A cota nao e um favor como apresentam, e sim fruto da luta e de muito sangue negro derramado pela polícia durante o seculo xx e xxi. Se a sociedade se recusa apaixonadamente a ajudar o negro sob qualquer aspecto, entao passa a cota pra ver se amenizam a fúria negra a ameaçar decapitar os branquinhos do condomínio de luxo no sequestro relampago. Quem sabe se uns 15 ou 20 nao mudam de ideia e desistam da ideia de fazer seu marido aparecer carbonizado no mato Dentro do audi zero.

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