Os monitores de Turismo de 2012 têm o prazer de continuar com o blog, que foi uma ideia inspiradora e que deve ser mantida. Por isso, mesmo com a greve, estaremos trazendo notícias do trade e do fenômeno turístico em si, pensando sempre na interdisciplinaridade.

- Jéssica Souza 17/08/2012


É com muito orgulho que os monitores do curso de Turismo do ano de 2011 darão continuidade à louvável iniciativa dos monitores do ano anterior. Que a monitoria do Turismo seja marcada pela qualidade, pela seriedade e pelo compromisso com o ensino.

- João Freitas 13/05/2011

Este blog se destina aos estudiosos, curiosos ou simplesmente simpatizantes do Turismo. Elaborado por nós, monitores do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, pretendemos com ele, levar você, leitor ao conhecimento dos eventos atuais no turismo e ainda te despertar para a análise da prática deste fenômeno, saindo do senso comum presente muitas vezes na teoria acadêmica, nos discursos políticos ou mesmo na "boca do povo".

Até de forma um pouco contraditória, te convidamos a parar um pouco para pensar sobre esta que é uma das atividades mais movimentadas e movimentadoras do mundo.

Não há nada mais agradável do que falar de viagens, não é mesmo? Então seja muito bem-vindo e vamos juntos monitorar o turismo!

- Aline Luz 22/09/2010

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Turismo Social: Iniciativas e Realidade


    É de conhecimento geral o crescimento de um segmento em particular do fenômeno turístico denominado ``turismo social´´.Tal crescimento se justifica por diversas razões,a primeira delas é o próprio crescimento do turismo como atividade e fenômeno social,a importância governamental cada vez maior dada ao segmento e o crescimento de uma consciência (tanto de âmbito governamental quanto da sociedade) relacionada ao desenvolvimento sustentável e da igualdade social.
  Segundo o Mtur (Ministério do Turismo) tal segmento da atividade turística é caracterizado por ``[...]conduzir e praticar a atividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão´´.
  O caráter do Turismo,por si só,é propiciador e/ou incentivador das relações sociais,do encontro consigo mesmo,da hospitalidade.Mais do que uma atividade econômica,o turismo é potencializador  da redução das diferenças (sociais e econômicas) e o turismo social se mostra como uma modalidade ou alternativa mais próxima ao desenvolvimento local,principalmente em comunidades ribeirinhas,quilombolas,rurais e etc..(e isto se dá em diversos quesitos que o termo,na atualidade,incorpora).
  No Brasil,no entanto,o principal operador de turismo social é o SESC (Serviço Social do Comércio) e o mesmo,em sua website do estado de Alagoas,define suas atividades neste âmbito com o intuito de ``[...] favorecer a incorporação de pessoas de baixa renda ao movimento turístico, em especial aos trabalhadores do comércio de bens e serviços e seus dependentes.´´
  Nota-se uma intencionalidade de abrangência muito limitada,por parte da instituição,uma vez que restringe o escopo do projeto a ``trabalhadores do comércio´´.Além disso é questionável a denominada ``incorporacão de pessoas de baixa renda ao movimento turístico´´.Tal segmento,em tese,promoveria além da inclusão de pessoas de baixa renda não apenas ao ``movimento turístico´´ mas a sua fruição,a possibilidade de contato com diferentes culturas e realidades e a compreensão das mesmas.Também é suprimida a questão ambiental,fundamental para a compreensão do papel da ação humana em sociedade nas contingências atuais.
  Na mesma webpage,cita-se: ``[...]mais do que a simples oferta de excursões e passeios, o turismo social é pautado por valores como democracia, exercício da cidadania, inclusão, acessibilidade e solidariedade, garantido que sua clientela principal – o comerciário e seus dependentes – tenha acesso a todas as atividades oferecidas., através da prática de preços justos, abaixo do mercado hoteleiro.´´.Neste trecho,nota-se parcialmente um correto posicionamento no que se refere ao turismo social.No entanto,novamente é bastante limitado a abrangência das intenções,além de apenas restringir o fator de inclusão ao âmbito comercial da atividade turística.
  Não se pode julgar as intencionalidades da instituição SESC,pois pela sua história e pelo seu papel junto ao comércio e o setor de serviços tais medidas e ações são mais do que esperadas.Há realmente um esforço parcial no que se refere ao turismo social.
  Mas estas medidas e ações não podem ser tomadas tão somente por entidades e/ou instituições.A OMT (Organização Mundial do Turismo) em seu preâmbulo  e sétimo artigo menciona que "(...) [3] o turismo social, e em particular o turismo associativo, que permite o amplo acesso ao lazer, às viagens e às férias, deveria ser desenvolvido com o apoio das autoridades públicas; [4] o turismo familiar, de jovens, de estudantes, da terceira idade e de deficientes deveria ser encorajado e facilitado".
  O Governo Federal (juntamente com o Ministério do Turismo) tem desenvolvido alguns programas específicos,discussões e iniciativas no sentido de promover o turismo social em comunidades costeiras,indígenas e quilombolas..ainda que de forma incipiente.
  Concluímos que a participacão do governo com políticas públicas integradas validam o denominado turismo social.A intencionalidade desta modalidade de turismo não pode ser efetivada e/ou compreendida sem a atuação do mesmo,uma vez que o turismo é um fenômeno multifacetado o qual diversas variáveis estão presentes (as quais muitas destas dependentes do poder público).Além disso,o Estado deve agir como mediador com relação a iniciativa privada,para que haja um equilíbrio entre benefícios e interesses ligados ao setor privado e público,equiparando e abrangendo de forma adequada e completa esta modalidade turística.

Rubens Leon de Lima Barreto
Monitor da disciplina Estudos Antropológicos do Turismo.

Citações e Webgrafia

ORGANIZACÃO MUNDIAL DO TURISMO,Código Mundial de Ética do Turismo,Chile,1999.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Turismo de natureza


A diversificação da oferta turística mundial em relação às tendências da demanda, entre outros fatores, ocasiona a expansão do mercado e o surgimento e consolidação de variados segmentos turísticos. A segmentação é entendida como uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda (OMT, 2001).
Um desses segmentos turísticos é o turismo de natureza, o qual é o foco desta matéria. Nos últimos anos a preocupação pelos problemas ambientais cresceu muito, estimulando turistas a entrarem “em contato” com a natureza e utilizar todo seu potencial, nem sempre de forma correta, prejudicando o meio ambiente. Porém, quando se trata de um turismo bem planejado, transforma-se em um interessante fator de desenvolvimento econômico, cultural e político para a região em que está sendo implantado.
Desse modo, as relações de hospitalidade que se estabelecem entre os grupos de turistas, pertencentes a diversas culturas, com a região que os recebe são um dos resultados da atividade turística. Com isso, a partir do momento que essas relações se desenvolvem dentro de padrões de respeito, mantendo compromissos com o futuro tanto da região receptora quanto do meio ambiente, há o estabelecendo da interação e acolhimento entre ambas as partes. 
De acordo com McKercher (2002), no termo turismo de natureza pode-se incluir uma enorme variedade de tipos de turismo, dentre eles o ecoturismo, o turismo rural, turismo de observadores de pássaros ou de baleias, turismo de safáris fotográficos, turismo de aventura, turismo sustentável e outras formas de turismo envolvendo o meio ambiente. Com relação ao turismo de natureza, o ambiente natural se constitui na principal base de desenvolvimento e sustentação.
                                 Fonte: Google Imagens

É cada vez mais comum todas essas segmentações de turismo citadas no parágrafo anterior serem rotuladas como ecoturismo. Entretanto, o termo turismo de natureza é mais abrangente, englobando todos esses tipos de turismo. Já o ecoturismo tem como definição, de acordo com a OMT (2004), ser um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.
O interesse global por temas ambientais fez crescer o desejo das pessoas de experimentar atrações ao ar livre. O anseio por um estilo de vida mais saudável instigou uma parcela de turistas a abandonar as tradicionais férias de sol, areia e mar por alternativas que englobassem o meio ambiente.
Existem vários exemplos do turismo de natureza englobando outros segmentos. Como exemplo, temos o turismo rural que consiste em um tipo de turismo que explora o meio rural, tendo como principal atrativo a forma de vida na zona rural. Esse tipo de turismo ocorre em fazendas onde há uma produção agropecuária ativa, possibilitando um contato direto do turista com a cultura e o dia-a-dia de uma fazenda.
                              Fonte: Google Imagens

Outro exemplo a ser mencionado é o caso do turismo de aventura, o qual turismo de natureza também abarca. No turismo de aventura o turista busca atividades radicais, de aventura, com caráter recreativo. Esse tipo de turismo pode ocorrer em qualquer espaço, seja ele urbano, rural, natural ou construído. Porém, a grande procura é por atividades que envolvam a natureza, como o rapel, arvorismo, trekking, rafting, off-road, asa delta, balonismo, parapente, tirolesa, escalada, bungue jump e uma série de outras atividades que proporcionem uma sensação de aventura em meio natural. Vale ressaltar que essa tipologia de turismo está muito ligada ao interesse e necessidade da população buscar uma sensação de liberdade, fugindo assim da correria das cidades.
                              Fonte: Google Imagens

Portanto, é de consenso que o turismo de natureza quando mal explorado pode deixar sequelas graves ao meio ambiente, como o fim de recursos naturais, que são essenciais não só para o turismo, mas para toda a sociedade em geral, poluição de fontes de águas minerais, desmatamento de florestas, extinção de animais, além de uma série de outros danos. Logo, não só o turismo de natureza, mas também outras segmentações de turismo devem ser desenvolvidas de maneiras responsáveis, havendo sempre um monitoramento e planejamento das regiões e áreas receptoras da prática turística.

Flora Thamiris R. Bittencourt
Monitora de Hospitalidade
Referências:

FARIA, Dóris Santos de; CARNEIRO, Kátia Saraiva. Sustentabilidade ecológica no turismo. Brasília: UnB, 2001.

McKercher, Bob. Turismo de natureza: planejamento e sustentabilidade. São Paulo: Contexto, 2002.

OMT. Introdução ao turismo. São Paulo: Rocca, 2001.

OMT. Desenvolvimento sustentável do ecoturismo. São Paulo: Rocca, 2004.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Contemplar e Participar: imbricações


     Batendo a cabeça para eleger o tema de lazer que iria discorrer neste espaço, recorro às palavras sublinhadas por mim do livro A linguagem da encenação teatral, dando origem a uma citação que reproduzo a seguir:

"Ronconi estava consciente de que o dispositivo por ele concebido permitia ao espectador escolher entre duas atitudes: a de viver o espetáculo, participar dele como de uma espécie de grande jogo e retirar dele um prazer lúdico, ou a de contemplá-lo, à maneira convencional, do lado de fora. Quer dizer, neste último caso, correr o risco de entediar-se, como acontece a alguém que está assistindo a um jogo cujas regras não conhece".  (ROUBINE, Jean-Jacques, 1998)

Luca Ronconi é o responsável pela inovadora montagem em 1970 de Orlando Furioso, uma adaptação acertadamente lúdica para um poema nominado épico. As inovações do encenador italiano advêm da sua distância com relação ao teatro tradicional – aquele com o palco elevado, apartado da plateia, formando uma caixa que permite criar ilusão para o público – que assistimos costumeiramente nos dias de hoje. Das alterações que o encenador italiano efetua, destaco a ação fragmentada ao invés da sucessiva, obrigando o espectador escolher para onde sua atenção deve voltar ao invés de abranger toda a ação que ocorre linearmente no palco, e também, o público evoluindo de pé em um espaço vazio, impossibilitando os espectadores de se situarem como público, dado que o espectador é forçosamente parte integrante do espetáculo – que passa a ser, nesta outra mirada, um jogo irresistível.


          A jornada narrada nos serve neste instante para adentrar as discussões em torno da famosa abstração conhecida como a dicotomia entre a contemplação e a participação. A trivialidade sobre este tópico pode ser expressa na opinião dos que afirmam que o ato de ler é contemplativo mas nunca passivo, numa retórica que tenta contrabalancear o conteúdo negativo de uma palavra com o caráter contundente da outra. A dúvida que paira sobre nossas cabeças em reafirmar se uma atividade pende mais para a contemplação ou mais para a participação logo se desvanece quando o debate ganha teor classificatório, o que de fato sucede nestes combates teóricos.
No afã de investigar a fundo esta questão, foi tomado como exemplo o vanguardismo de Luca Ronconi, que ao contrário de seguir as convenções desviou-se para o caminho das pedras. Sua postura amplia a mesmice do vaivém entre os concordantes e os discordantes; faz ir além, transcende. O ponto-chave para solucionar o dilema que muitas vezes nós mesmos produzimos, como a separação em dois grupos diametralmente opostos entre aqueles que olham e aqueles que agem, encontra-se numa matéria tênue que não enxergamos nas pessoas, mas que é da qualidade de todos: ser pulsante. Ser pulsante quer dizer obedecer a uma ordem interna, que produz energia, convertida ou não em movimento. Se formos estabelecer uma fronteira, este deve ser o critério, não a usual divisão ativo/passivo.
           Pondo de lado o problema sempre controverso dos limites, a pergunta que anseio responder agora é: quando a contemplação de algo direciona alguém a ser partícipe daquilo que está meditando? E de modo secundário: se a contemplação é necessariamente um pressuposto da participação? Para tal empreitada, lançarei mão de histórias pessoais.


        Uma delas foi minha ida ao Centro Cultural Banco do Brasil, na Avenida Primeiro de Março, no transcurso da exposição Tarsila do Amaral - Um Percurso Afetivo. Num dos ambientes destinados aos seus quadros, topei com a plasticidade de O Ovo ou Urutu. Mediante o exercício da imaginação, distingui um ovo com seu cocuruto virado pra baixo, um ovo que assim disposto espatifar-se-ia no chão caso não houvesse na base um amparo. E circulando para outro elemento da figura, distingo uma serpente (o urutu) que se enrosca em algo que também me dá a impressão de estar de ponta pra baixo. Na representação do quadro, vislumbro um motivo para escrever uma poesia: o aniquilamento do eixo. Mas o que o Ovo ou Urutu é no seu contexto de 1928? Segundo fontes oficiais do site dedicado à pintora:

"A cobra grande é um bicho que assusta e tem um poder de 'deglutição', a partir daí, o ovo é uma gênese, o nascimento de algo novo e esta era a proposta da Antropofagia".


Diante de tais observações, faço a inferência de que eu contemplei a obra à proporção que eu vi destoar a realidade da dimensionalidade do quadro. E de que eu não contemplei a obra, conforme ditames estéticos do movimento modernista, embora esta fosse uma trilha. Então, retornando à pergunta que me fiz anteriormente, o que devo responder diante dessas considerações? De modo algum eu me inseri no território pertencente ao quadro de Tarsila do Amaral, mas sim me vali sub-repticiamente do que sua arte me provocava, segundo meus desejos. Assim sendo, não houve participação.
A segunda história data de mais de sete anos atrás, quando eu estava no Ensino Médio. Àquela época, no empenho de aprender autonomamente a língua de Cervantes, baixei uma série televisiva de sucesso da Espanha, chamada Aquí No Hay Quien Viva, que os brasileiros por razões óbvias desconhecem. Assisti as cinco temporadas do programa sem o auxílio de legendas, e sem caçar comentários de aficionados ou declarações dos atores na rede. Em outras palavras, fruí da obra, ou seja, contemplei. Há dois anos somente, dois intercambistas de Madrid circularam pelos corredores da faculdade, onde trocamos experiências. Numa de nossas conversas, soltei que conhecia a série mencionada anteriormente, o que os surpreendeu. E a mim também!


          Pois eu não entendia como o porteiro da série era o mais popular lá, principalmente porque era de todos os personagens, quem eu entendia menos as piadas. Aí está o porquê! Era de quem eu compreendia menos a língua, seu sotaque era reconhecidamente de uma zona mais desfavorecida socialmente – o que eu não sabia –, em consequência, mais popular. Muitas informações desveladas redimensionaram a série para mim, vista sob meu olhar outrora mais ingênuo e menos relativizado.


         Retornando às duas perguntas que me fiz, que conclusões tiro, somando agora o que acabei de dizer? Antes de tudo, reparo que a contemplação está atrelada a uma quantidade de informações básicas, por tratar-se justamente de um objeto cultural simbólico. O olhar é direcionado a uma produção de significados. Associativamente, julgo por isso que a participação é efetivada SÓ no caso de existir uma interação entre duas pessoas ou mais. A contemplação, em contrapartida, é um ato não compartilhado. Se porventura alguém venha a mencionar o contra-argumento da escrita, retruco que o interlocutor, embora ausente, faz-se sentir presente na evocação de uma vida semelhante a de quem o supõe ali por perto, engendrando participação.
         Que síntese, no fim, formulo? A participação não está destituída da contemplação, aliás, esta é parte constituinte daquela. Elas interagem entre si.

Raphael Giammattey Machado Ricardo – Monitor de Lazer e Entretenimento I e II