Os monitores de Turismo de 2012 têm o prazer de continuar com o blog, que foi uma ideia inspiradora e que deve ser mantida. Por isso, mesmo com a greve, estaremos trazendo notícias do trade e do fenômeno turístico em si, pensando sempre na interdisciplinaridade.

- Jéssica Souza 17/08/2012


É com muito orgulho que os monitores do curso de Turismo do ano de 2011 darão continuidade à louvável iniciativa dos monitores do ano anterior. Que a monitoria do Turismo seja marcada pela qualidade, pela seriedade e pelo compromisso com o ensino.

- João Freitas 13/05/2011

Este blog se destina aos estudiosos, curiosos ou simplesmente simpatizantes do Turismo. Elaborado por nós, monitores do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, pretendemos com ele, levar você, leitor ao conhecimento dos eventos atuais no turismo e ainda te despertar para a análise da prática deste fenômeno, saindo do senso comum presente muitas vezes na teoria acadêmica, nos discursos políticos ou mesmo na "boca do povo".

Até de forma um pouco contraditória, te convidamos a parar um pouco para pensar sobre esta que é uma das atividades mais movimentadas e movimentadoras do mundo.

Não há nada mais agradável do que falar de viagens, não é mesmo? Então seja muito bem-vindo e vamos juntos monitorar o turismo!

- Aline Luz 22/09/2010

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Contemplar e Participar: imbricações


     Batendo a cabeça para eleger o tema de lazer que iria discorrer neste espaço, recorro às palavras sublinhadas por mim do livro A linguagem da encenação teatral, dando origem a uma citação que reproduzo a seguir:

"Ronconi estava consciente de que o dispositivo por ele concebido permitia ao espectador escolher entre duas atitudes: a de viver o espetáculo, participar dele como de uma espécie de grande jogo e retirar dele um prazer lúdico, ou a de contemplá-lo, à maneira convencional, do lado de fora. Quer dizer, neste último caso, correr o risco de entediar-se, como acontece a alguém que está assistindo a um jogo cujas regras não conhece".  (ROUBINE, Jean-Jacques, 1998)

Luca Ronconi é o responsável pela inovadora montagem em 1970 de Orlando Furioso, uma adaptação acertadamente lúdica para um poema nominado épico. As inovações do encenador italiano advêm da sua distância com relação ao teatro tradicional – aquele com o palco elevado, apartado da plateia, formando uma caixa que permite criar ilusão para o público – que assistimos costumeiramente nos dias de hoje. Das alterações que o encenador italiano efetua, destaco a ação fragmentada ao invés da sucessiva, obrigando o espectador escolher para onde sua atenção deve voltar ao invés de abranger toda a ação que ocorre linearmente no palco, e também, o público evoluindo de pé em um espaço vazio, impossibilitando os espectadores de se situarem como público, dado que o espectador é forçosamente parte integrante do espetáculo – que passa a ser, nesta outra mirada, um jogo irresistível.


          A jornada narrada nos serve neste instante para adentrar as discussões em torno da famosa abstração conhecida como a dicotomia entre a contemplação e a participação. A trivialidade sobre este tópico pode ser expressa na opinião dos que afirmam que o ato de ler é contemplativo mas nunca passivo, numa retórica que tenta contrabalancear o conteúdo negativo de uma palavra com o caráter contundente da outra. A dúvida que paira sobre nossas cabeças em reafirmar se uma atividade pende mais para a contemplação ou mais para a participação logo se desvanece quando o debate ganha teor classificatório, o que de fato sucede nestes combates teóricos.
No afã de investigar a fundo esta questão, foi tomado como exemplo o vanguardismo de Luca Ronconi, que ao contrário de seguir as convenções desviou-se para o caminho das pedras. Sua postura amplia a mesmice do vaivém entre os concordantes e os discordantes; faz ir além, transcende. O ponto-chave para solucionar o dilema que muitas vezes nós mesmos produzimos, como a separação em dois grupos diametralmente opostos entre aqueles que olham e aqueles que agem, encontra-se numa matéria tênue que não enxergamos nas pessoas, mas que é da qualidade de todos: ser pulsante. Ser pulsante quer dizer obedecer a uma ordem interna, que produz energia, convertida ou não em movimento. Se formos estabelecer uma fronteira, este deve ser o critério, não a usual divisão ativo/passivo.
           Pondo de lado o problema sempre controverso dos limites, a pergunta que anseio responder agora é: quando a contemplação de algo direciona alguém a ser partícipe daquilo que está meditando? E de modo secundário: se a contemplação é necessariamente um pressuposto da participação? Para tal empreitada, lançarei mão de histórias pessoais.


        Uma delas foi minha ida ao Centro Cultural Banco do Brasil, na Avenida Primeiro de Março, no transcurso da exposição Tarsila do Amaral - Um Percurso Afetivo. Num dos ambientes destinados aos seus quadros, topei com a plasticidade de O Ovo ou Urutu. Mediante o exercício da imaginação, distingui um ovo com seu cocuruto virado pra baixo, um ovo que assim disposto espatifar-se-ia no chão caso não houvesse na base um amparo. E circulando para outro elemento da figura, distingo uma serpente (o urutu) que se enrosca em algo que também me dá a impressão de estar de ponta pra baixo. Na representação do quadro, vislumbro um motivo para escrever uma poesia: o aniquilamento do eixo. Mas o que o Ovo ou Urutu é no seu contexto de 1928? Segundo fontes oficiais do site dedicado à pintora:

"A cobra grande é um bicho que assusta e tem um poder de 'deglutição', a partir daí, o ovo é uma gênese, o nascimento de algo novo e esta era a proposta da Antropofagia".


Diante de tais observações, faço a inferência de que eu contemplei a obra à proporção que eu vi destoar a realidade da dimensionalidade do quadro. E de que eu não contemplei a obra, conforme ditames estéticos do movimento modernista, embora esta fosse uma trilha. Então, retornando à pergunta que me fiz anteriormente, o que devo responder diante dessas considerações? De modo algum eu me inseri no território pertencente ao quadro de Tarsila do Amaral, mas sim me vali sub-repticiamente do que sua arte me provocava, segundo meus desejos. Assim sendo, não houve participação.
A segunda história data de mais de sete anos atrás, quando eu estava no Ensino Médio. Àquela época, no empenho de aprender autonomamente a língua de Cervantes, baixei uma série televisiva de sucesso da Espanha, chamada Aquí No Hay Quien Viva, que os brasileiros por razões óbvias desconhecem. Assisti as cinco temporadas do programa sem o auxílio de legendas, e sem caçar comentários de aficionados ou declarações dos atores na rede. Em outras palavras, fruí da obra, ou seja, contemplei. Há dois anos somente, dois intercambistas de Madrid circularam pelos corredores da faculdade, onde trocamos experiências. Numa de nossas conversas, soltei que conhecia a série mencionada anteriormente, o que os surpreendeu. E a mim também!


          Pois eu não entendia como o porteiro da série era o mais popular lá, principalmente porque era de todos os personagens, quem eu entendia menos as piadas. Aí está o porquê! Era de quem eu compreendia menos a língua, seu sotaque era reconhecidamente de uma zona mais desfavorecida socialmente – o que eu não sabia –, em consequência, mais popular. Muitas informações desveladas redimensionaram a série para mim, vista sob meu olhar outrora mais ingênuo e menos relativizado.


         Retornando às duas perguntas que me fiz, que conclusões tiro, somando agora o que acabei de dizer? Antes de tudo, reparo que a contemplação está atrelada a uma quantidade de informações básicas, por tratar-se justamente de um objeto cultural simbólico. O olhar é direcionado a uma produção de significados. Associativamente, julgo por isso que a participação é efetivada SÓ no caso de existir uma interação entre duas pessoas ou mais. A contemplação, em contrapartida, é um ato não compartilhado. Se porventura alguém venha a mencionar o contra-argumento da escrita, retruco que o interlocutor, embora ausente, faz-se sentir presente na evocação de uma vida semelhante a de quem o supõe ali por perto, engendrando participação.
         Que síntese, no fim, formulo? A participação não está destituída da contemplação, aliás, esta é parte constituinte daquela. Elas interagem entre si.

Raphael Giammattey Machado Ricardo – Monitor de Lazer e Entretenimento I e II 

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