Os monitores de Turismo de 2012 têm o prazer de continuar com o blog, que foi uma ideia inspiradora e que deve ser mantida. Por isso, mesmo com a greve, estaremos trazendo notícias do trade e do fenômeno turístico em si, pensando sempre na interdisciplinaridade.

- Jéssica Souza 17/08/2012


É com muito orgulho que os monitores do curso de Turismo do ano de 2011 darão continuidade à louvável iniciativa dos monitores do ano anterior. Que a monitoria do Turismo seja marcada pela qualidade, pela seriedade e pelo compromisso com o ensino.

- João Freitas 13/05/2011

Este blog se destina aos estudiosos, curiosos ou simplesmente simpatizantes do Turismo. Elaborado por nós, monitores do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, pretendemos com ele, levar você, leitor ao conhecimento dos eventos atuais no turismo e ainda te despertar para a análise da prática deste fenômeno, saindo do senso comum presente muitas vezes na teoria acadêmica, nos discursos políticos ou mesmo na "boca do povo".

Até de forma um pouco contraditória, te convidamos a parar um pouco para pensar sobre esta que é uma das atividades mais movimentadas e movimentadoras do mundo.

Não há nada mais agradável do que falar de viagens, não é mesmo? Então seja muito bem-vindo e vamos juntos monitorar o turismo!

- Aline Luz 22/09/2010

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Turismo e Desenvolvimento Cultural: a favela e o (não) lugar turístico



A favela carioca, objeto de estudo do presente trabalho a partir do conceito geográfico de lugar, e, mais especificamente o conceito de lugar turístico, é percebida como um lugar, pois representa e nos mostra as relações múltiplas e complexas.
A favela como lugar turístico depende do tipo de relação que se cria com aquele espaço vivido como atrativo turístico. Existem algumas experiências de turismo, conhecidos como favela tours em que se criam condições para essa convivência entre o morador e o visitante, e em outras circunstâncias se criam bolhas experienciais (conceito original de Broostin, 1964) que são completamente desconectadas do contexto cultural e social das favelas.
Segundo Freire-Medeiros (2007) existem atualmente diversas agências de turismo da cidade do Rio de Janeiro que organizam passeios na favela da Rocinha. A oferta é variada: há passeios “a pé, de van, de jipe ou de moto, de dia ou de noite, com refeição incluída ou não”, e, ainda que com algumas diferenças, todos os passeios oferecem atrativos “clássicos” comuns em todas as agências.
Dentre esses atrativos clássicos estão as famosas “lajes” das favelas; a Praça dos Artesões, localizada em um mirante dentro da favela; creches; lugares em que são desenvolvidos trabalhos sociais; a escola de samba da Rocinha, etc. Também são visitados pontos de vendas de artesanato, onde é possível o turista fazer aquisição de souvenirs.
Um grupo de pesquisa da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RIO), fez uma pesquisa de campo com os moradores da Rocinha, questionando sobre alguns aspectos do favela tour. Os moradores fizeram críticas incisivas aos guias de turismo que são contratados pelas agências para levarem os turistas no passeio pela favela. Esses intermediários, segundo os moradores, seriam responsáveis por fornecer informações distorcidas ou contar histórias inexatas aos turistas que visitam a favela. Essas críticas são mais fortes, pois os guias são praticamente as únicas pessoas que os turistas têm algum contato durante a visita. Os únicos outros lugares que o turista tem contato direto com o morador é quando compra algum souvenir ou no mirante da favela, que é ao ar livre e o turista pode permanecer algum tempo livre. Ainda existe um distanciamento muito grande entre o morador e o turista.
Segundo a pesquisa realizada pelo SEBRAE-RJ, muitos moradores da Rocinha enxergam o turismo na comunidade como prejudicial e estereotipado. Um exemplo disso é o depoimento de um morador, Cláudio, presidente da União Pró Melhoramento dos Moradores da Rocinha (UPMMR): “o turismo na Rocinha não gera um retorno social, é um turismo que só vem explorar o narcotráfico, um turismo que hoje é tese de mestrado em universidades no mundo inteiro, um turismo que a gente classifica como um verdadeiro ‘safári de humanos’ onde não se tem regras, em que eles negam, escondem toda a história bonita e de resistência que a comunidade tem  (...) esquecem  todo  esse  histórico  e  vem  aqui  hoje fazer  esse  turismo  invasivo  (...).  A  Rocinha  está  sendo  vendida  no mundo inteiro e esse turismo não faz nada para combater essa miséria, para  combater  esse  lixo,  para  estruturar  a  comunidade.  O  que  eles querem  é  isso,  é  explorar  a  miséria”  (SEBRAE-RJ,  2008,  p.118, entrevista realizada no dia 18 de julho de 2008).
           Esse turismo que é entendido por parte dos moradores da favela como deteriorante e inimigo, explora e não deixa nenhum benefício na Rocinha. Como de fato ocorre. Parte das agências que são responsáveis por organizar os favela tours nas favelas da cidade do Rio de Janeiro não produzem nenhum tipo de benefício à população local. Os impactos econômicos positivos gerados pelo turismo nas favelas são mais perceptíveis aos artesãos que ganham a vida vendendo souvenirs para turistas nos pontos de venda de artesanato na favela.
       O fato de uma favela ser um destino turístico não representa necessariamente degradação espacial, ambiental, cultural e identitária. Existem casos em que a exploração do lugar turístico das favelas de maneira bem planejada estimula a valorização social e econômica do lugar.
Segundo SPAMPINATO (2009), um exemplo desses casos em que há benefícios para a população residente é a CoopBabilônia, em que a consciência ambiental juntamente com ações de solidariedade internacional podem construir laços humanos estáveis, e impulsionar social e economicamente determinada comunidade. Ou por exemplo a Favela Receptiva, em que o sentido identitário pode ser estimulado e impulsionado por uma atividade turística, deixando ao anfitrião seu espaço para livre expressão.
Como dito anteriormente, ainda existem casos de turismo em favela em que a teatralização da vida cotidiana dos moradores impera, transformando o lugar turístico em um não-lugar turístico, como por exemplo o favela tour que ocorre na comunidade da Rocinha. O estudo de caso adverte que para ser realmente benéfico para a população residente do lugar turístico, o turismo não pode ser desenhado e projetado de fora e aplicado nas favelas cariocas.
Lohanne Fernanda Ferreira
Monitora de Turismo e Desenvolvimento Cultural I e II
Referências:

FREIRE MEDEIROS, B. O Rio de  Janeiro  que  Hollywood  inventou.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

INSTITUTO VIRTUAL DE TURISMO. < www.ivt-rj.net > Acesso em: 25 de Junho de 2012.

SPAMPINATO, Elisa. Turismo em favelas cariocas e o desenvolvimento situado: a possibilidade do encontro em suas iniciativas comunitárias. Tese de Mestrado, COPPE, 2009.

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