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O lazer é um fenômeno moderno,
fruto da nova conjuntura social que se instaurou pós-revolução industrial,
diante do novo sistema econômico que se desenvolveu – o Capitalismo. Nesse
período, as relações trabalhistas se intensificaram e deram início a uma série
de reivindicações por maiores direitos econômicos e sociais (como melhores
salários, férias remuneradas, diminuição da jornada de trabalho, melhores
condições de vida e de serviço). Dessa forma, o tempo de lazer é um tempo
conquistado nas “lutas de classes” e decorrente da artificialização do tempo em
“tempo de trabalho” e em “tempo livre”.
Estudiosos, como Gilberto Freyre,
acreditam que as relações entre o lazer e o trabalho rumam para um novo cenário,
com a constante e crescente automatização e o avanço tecnológico. Para ele, o
trabalhador tende a assumir cada vez mais um papel de técnico nas organizações
industriais. Gilberto Freyre afirma que com essa nova configuração social, a
“glorificação do trabalho” dará lugar à busca pelo prazer, às atividades
recreativas e às artes. O aumento do “tempo livre” e a diminuição do tempo
destinado ao trabalho também tendem a se refletir no aumento do tempo destinado
às viagens e ao turismo.
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Não é difícil se estabelecerem
relações entre o lazer, o turismo e a arte. Basta observar as filas
quilométricas que se formam nas portas de museus e galerias de várias partes do
mundo, como nos famosos Museu do Louvre, British Museum ou Galleria Uffizi. A
globalização e os avanços tecnológicos, especialmente com a difusão da
internet, diminuíram as fronteiras entre diferentes culturas, sem que fosse
necessário quebrar fisicamente as barreiras territoriais. Além disso, significativas
mudanças na área dos transportes possibilitaram formas de deslocamento mais
práticas e acessíveis. Esses aspectos, dentre muitos outros, impulsionaram a
mobilidade de um grande número de pessoas de diferentes classes sociais, que
hoje se locomovem e viajam intensamente rumo aos grandes “centros turísticos”.
Sendo o Turismo um fenômeno econômico e social baseado no deslocamento de
pessoas, na troca cultural e na experiência, até que ponto as pessoas querem viajar
para Roma e não visitarem o Coliseu ou irem ao Louvre e não verem a pintura da
Monalisa? Esses exemplos clássicos da
Arte, que se tornaram mundialmente conhecidos e cobiçados – os chamados jocosamente
de “arroz de festa”, em nossas aulas de Apreciação Estética –, fazem sucesso
nas lojas de souvenir, e são transformados
– pelo turismo – em produtos para o consumo.
A Arte, em toda a sua
subjetividade, não cabe em uma definição. Ela se faz na experiência estética, no
sentimento que ela provoca no observador.
Não se trata do gosto individual ou do que se considera feio ou belo
socialmente. Para entender a Arte é preciso se despir dos preconceitos do gosto
pessoal e deixar de lado a ideia de representação perfeita do real, do visível.
A
ela cabem perguntas que ainda não possuem respostas, cabe a lapidação do olhar
e o conhecimento crítico.
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Entretanto a subjetividade e
sensibilidade artística entram em segundo plano quando entendemos que o tempo
de lazer, segundo David Harvey (2009), é um tempo concedido ao trabalhador,
pelo capitalismo, para que ele se torne consumidor. Logo, seria importante, diante do crescente
interesse da sociedade pela Arte, antes delimitada a um grupo restrito de
intelectuais ou críticos, que esses novos espectadores não passassem a ser apenas
seus consumidores passivos. Segundo o crítico de arte Richard Cork, a maioria
dos visitantes passeia pelos museus com uma rapidez desconcertante: dirigem-se
às obras específicas e passam os olhos, dando pouca atenção ao que está diante
deles, perdendo, assim, o que de melhor a Arte tem a oferecer – o sentimento, o
questionamento e a reflexão que provoca.
O que faltaria, então, a esses “novos
espectadores” ou admiradores é a percepção de que a ascensão da Arte como Lazer
poderia também vir acompanhada da vivência e da experiência estética. Os
diferentes estilos artísticos revelam a identidade cultural e a estética da
sociedade em determinado contexto histórico, econômico e social, apontam
perspectivas à crítica social, divertem e informam. Portanto, o
turismo em museus e em galerias é um campo a se especializar, para que possam
ser criadas novas possibilidades de fruição, para se construírem outras alternativas
no “tempo de lazer”, e para que o patrimônio artístico não se incorpore ao turismo apenas como “produto”
a ser consumido.
MARINA M. MORETTONI
Monitora de Turismo e Apreciação Estética
REFERÊNCIAS
ARANHA, MARTINS. Estética. In: ______. Filosofando: introdução à
filosofia. 3 ed. Revista. São Paulo: Moderna, 2003. p. 365-411.
CORK, Richard. Prefácio - Tudo
sobre ARTE: os movimentos e as obras mais importantes de todos os tempos.
Editora SEXTANTE. Rio de Janeiro, 2011
FREYRE, Gilberto. Tempo, ócio e arte:
reflexões de um latino americano em face do avanço da automação. Revista
Brasileira de Cultura. Rio de Janeiro, n.2, p.3, p.47-58, jan. /mar. 1970.
GOMBRICH, E. H. – A história da
arte; Tradução Álvaro Cabral. – [Reimpr.] – Tio de Janeiro: LTC, 2011
HARVEY, David. A condição
pós-moderna – São Paulo: Loyola, 2009
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